Guerra do Paraguai e Bagé: 150 anos(1864-2014) CAPÍTULO VIII
Cláudio Antunes Boucinha[ Licenciado em História (UFSM). Mestre em História do Brasil (PUCRS)].
“Não…”, ela respondeu. “É só a vida… A vida e o ar que se respira”.[ “A Alma e o Coração da Baleia”. Volta Ao Mundo Em 52 histórias. Neil Philip. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 1998].
Unidades Militares, em Bagé, em 1864
Antes da preparação para a guerra do Paraguai, as forças da Guarda Nacional [Na Província] eram de 1.711 praças na cidade de Bagé, em 1864, considerando a distribuição de tropas na Província, na época [os números não são exatos] :
“A força da guarda nacional é de 38,805 homens, sendo 10,839 de infantaria da reserva e a restante de serviço activo; a força activa consta de 24,878 praças de cavallaria, 2,724 de infantaria e 344 de artilharia. A provincia [ Do Rio Grande do Sul] está dividida em 16 commandos superiores que são:
- o commando superior de Porto-Alegre e S. Leopoldo, com 5,613 praças;
- e de Quarahy e Sant’Anna do Livramento, com 3,688;
- o de Santo Antonio e Conceição do Arroio, com 3,419;
- o da Cruz-Alta, com 3,247;
- o do Passo Fundo, com 2,489;
- o de S. Borja, com 2,485;
- o do Triumpho , Taquary e S. Jeronymo, com 2,114;
- o do Rio Grande e S.José do Norte, com 1,909;
- o do Rio Pardo e Encruzilhada, com 1 ,908 ;
- o de S. Gabriel e Lavras, com 1 ,800 ;
- o da Cachoeira e Caçapava, com 2,160;
- o de Piratiny e Cangussú, com 1,771;
- o de Bagé, com 1,711;
- o de Santa Maria e S.Martinho, com 1,625;
- o de Pelotas, com 1,178,
- e o de Jaguarão, com 1,158”. [ SILVA, Domingos de Araujo e. Dicionário Histórico e Geográfico da Província de São Pedro ou Rio Grande do Sul. Rio de Janeiro: Eduardo & Henrique Laemmert, 1865, p. 87. http://books.google.com.br/books/reader?id=nRY0AQAAIAAJ&printsec=frontcover&output=reader . O livro de Domingos de Araujo e Silva, Dicionário Histórico e Geográfico da Província de São Pedro ou Rio Grande do Sul, publicado no Rio de Janeiro, pelos editores Eduardo & Henrique Laemmert, originalmente encerrado o livro em 31 de dezembro de 1864, foi publicado em 30 de junho de 1865, não indicava claramente suas fontes, para o estudo].
Considerando o suposto total da população urbana de Bagé (4.000 pessoas) e o suposto total das forças da Guarda Nacional na localidade (1.711 homens), calculava-se em 42,775% da população urbana que abandonou a cidade; pensando somente a Guarda Nacional, sem levar em conta os corpos de Voluntários da Pátria. A cidade ficou esvaziada, especialmente da população masculina, em 1865?
GLADYS SABINA RIBEIRO, em artigo, assinalava os vínculos da Guarda Nacional com o poder local:
“A Guarda Nacional era normalmente, organizada e subordinada a autoridades locais, por sua vez subordinados a grandes senhores e proprietários; só eram membros da guarda nacional aqueles que tivessem uma renda superior a 200$000. A centralização da Guarda Nacional no momento que era incorporada ao exército desagradou aos proprietários locais, o que causou uma dificuldade no recrutamento destes guardas nacionais, para a guerra contra o Paraguai”. [ GLADYS SABINA RIBEIRO . “VOLUNTÁRIOS DE PAU E CORDA”: OS POPULARES E A RESISTÊNCIA
NA GUERRA DO PARAGUAI. (1864-1870). ANPUH – XXIII SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA – Londrina, 2005. http://anpuh.org/anais/wp-content/uploads/mp/pdf/ANPUH.S23.0428.pdf ].
Vitor Izecksohn afirmava que “ser membro da Guarda Nacional ainda era, na década de 1860, um símbolo de status e uma das melhores desculpas para escapar ao recrutamento. Além disso, o prestígio de chefes locais era associado à proteção que poderiam proporcionar”. [ Vitor Izecksohn. “Recrutas da Pátria”. In Nossa História. Ano 2\ nº 13, novembro de 2004. Biblioteca Nacional. São Paulo: Vera Cruz\Ministério da Cultura, 2004, p. 31].
Ricardo Salles afirmava que “O Rio Grande do Sul foi a Província que mais combatentes mandou para o Paraguai. 34 mil soldados [ Domingos de Araújo e Silva indicava outros números: “38,805 homens”], 17% de sua população masculina. Localizada em área fronteiriça, contava com uma estrutura militar, baseada na organização de corpos da Guarda Nacional, mais permanente. Por isso o número de Voluntários da Pátria foi relativamente pequeno, 3.200 soldados”. [ SALLES, Ricardo. “Negros Guerreiros”. In Nossa História. Ano 2\ nº 13, novembro de 2004. Biblioteca Nacional. São Paulo: Vera Cruz\Ministério da Cultura, 2004, p. 32].
Pode-se concluir, portanto, que muito mais que os Voluntários da Pátria em si mesmos, no caso do Rio Grande do Sul, deve-se considerar o conjunto de forças que saíram para combate da Província, especialmente os corpos da Guarda Nacional.
MENDES jr & MARANHÃO (1983), anotava as questões fundamentais sobre o exército:
“Devem-se também ao problema de se definir o que era o exército e que tipo de forças participaram. Os 18 mil homens de 1865 constituíam o chamado exército, mas este não era a força militar fundamental do Império, nem tinha realmente importância em escala nacional.
A força militar do Império era a Guarda Nacional, cujo oficialato era formado diretamente pelos latifundiários, comerciantes e políticos, a aristocracia imperial, e cujas ações fundamentais se voltavam para o controle da ordem interna e a manutenção do poder da aristocracia agrária”.
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