A FESTA DAS VELAS VOTIVAS EM BAGÉ - III
Cláudio Antunes Boucinha [Licenciado em História (UFSM). Mestre em História do Brasil (PUCRS)]
A Procissão Primordial
A religiosidade local marcou desde o início da povoação em Bagé, conforme a tese de doutorado de Bicca:
“Ainda sobre ao início do povoamento do município de Bagé, Eurico Jacinto Salis (1955, p. 34 - 36) trazia a seguinte consideração:
‘No ano de 1812, desenvolvia-se o novo núcleo de Bagé, nascido de um acampamento militar, [...] a população já possuía arraigados sentimentos religiosos [...]. Numa ação de profundo sentimento religioso [...] e em procissão transportam para a nova freguesia a preciosa imagem de S. Sebastião, talhada em madeira, com olhos amendoados, estilizando bela feição íncola e depositaram em um rancho, característico dos pampas sulinos, dos muitos que existiam no acampamento de Dom Diogo [...]. Construíram então, no local onde se acha [ 1951] a histórica matriz de S. Sebastião, a primeira capela de grande dimensão, feita em torrões de barro e coberta com capim santa-fé. [...] em 1814, a freguesia foi elevada à condição de curato, [...]’. [ SALIS, Eurico Jacinto. História de Bagé: ama tua terra quem bem conhece. Porto Alegre: Livraria do Globo S.A., 1955]
Percebe-se através deste texto, que a questão da religiosidade foi também uma tônica no processo de formação do município de Bagé, este fato pode ter relação direta e/ou indireta pelas características adversas vivenciadas pelos habitantes da campanha neste período e pela preocupação com o estigma que se tinha do Gaúcho, um homem sem lei e religião, como afirma Gutfreind (2006); [Não temos como objetivo deste trabalho, historicizar a questão do gaúcho e suas especificidades locais e/ou regionais, mas compreender o processo de formação do município de Bagé]: ‘habituados a uma vida independente e andarilha, os gaúchos representavam uma classe rebelde, responsável pelos crimes sociais para os proprietários de terra e do gado’. [ GUTFREIND, Ieda. O Gaúcho e a sua cultura. In: História Geral do Rio Grande do Sul. 1ª Ed. Passo Fundo: Méritos, 2007, v.1, Colônia. GUTFREEIND, Ieda. Rio Grande do Sul: 1889-1896: A Proclamação da República e a Reação Liberal através de sua Imprensa. Dissertação (Mestrado em Historia) - Pontífice Universidade Católica, Porto Alegre. 1979. GUTFREIND, Ieda. Historiografia sul-rio-grandense e o positivismo comtiano. 1998, p. 50. In: GRAEBIN, Cleusa M.; LEAL, Elisabete (org.). Revisitando o positivismo. 1ª ed. Canoas: Editora La Salle, 1998, p. 47-58].
Ademais, a religiosidade sempre foi um traço importante no processo colonizador português desde os tempos do Brasil Colônia, este processo tinha o caráter educativo e pedagógico, além de ser o amálgama dos interesses lusitanos em relação à necessidade de civilizar também os “selvagens” da Província de São Pedro do Sul. (Piccolo, 1992; Dreher, 2006 e Saviani, 2008)”.
[ PICCOLO, Helga. Vida política no século XIX. Porto Alegre: Ed. UFRGS, 1992.
_____________. 1893: A Revolução além da Fronteira. In: História Geral do Rio Grande do Sul. 1ª Ed. Passo Fundo: Méritos, 2007. v. 3, República Velha (1889-1930). Tomo I.
______________. O processo de Independência do Brasil. In: História Geral do Rio Grande do Sul. 1ª Ed. Passo Fundo: Méritos, 2006. v. 2, Império.
______________. A Política Rio-Grandense no Império. In: DACANAL, José Hildebrando; GONZAGA, Sergius. RS: Economia & Política. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1979, pp. 93-117.
DREHER, Martin N. As religiões. In: História Geral do Rio Grande do Sul. 1ª Ed. Passo Fundo: Méritos, 2007. v. 2, Império.
SAVIANI, Demerval et al. História e história da educação: O Debate Teórico-Metodológico Atual. Campinas, SP: Autores Associados: HISTEDBR, 2006. (Coleção Educação Contemporânea).
_____________. Educação: do senso comum à consciência filosófica. 7. ed. São Paulo: Cortez, 1986.
____________. Educação brasileira: estrutura e sistema. – 5ª Ed. São Paulo: Editora Saraiva, 1983.
__________. Sistema de Educação: Subsídios para a Conferência Nacional de Educação. 2010. Disponível em:
http://portais.seed.se.gov.br/sistemas/portal/arquivos/p14-499_conae_dermevalsaviani.pdf . Acessado em 06/06/2013.
__________. Escola e Democracia. 36ª ed. Campinas, SP: Autores Associados, 2003.
__________. Pedagogia Histórico-Crítica: primeiras aproximações. 8ª ed. Campinas, SP: Autores Associados, 2003.
__________. Breves considerações sobre fontes para História da Educação. IN: Fontes, história e historiografia da educação. Campinas, SP: Autores Associados: HISTEDBR; Curitiba, PR: Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR); Palmas, PR: Centro Universitário Diocesano do Sudoeste do Paraná (UNICS); Ponta Grossa, PR: Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG); 2004. (Coleção Memória da Educação). Citado por:
Alessandro Carvalho Bica. A ORGANIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO PÚBLICA MUNICIPAL NO GOVERNO DE CARLOS CAVALCANTI MANGABEIRA (1925-1929) NO MUNICÍPIO DE BAGÉ / RS. Tese de Doutorado em Educação apresentada como requisito parcial e final para obtenção do título de Doutor em Educação. Universidade do Vale do Rio dos Sinos. Programa de Pós-Graduação em Educação. Linha de Pesquisa: Educação, História e Políticas. Orientadora: Profª Drª Berenice Corsetti. São Leopoldo, 2013.
Comentários