A RUA DO NOSSO MONMANY

Nesta linda [cidade de] Porto Alegre nasce uma nova rua. Nas placas das esquinas, nos envelopes das cartas, no mapa da cidade, seu nome será lembrado pelas próximas gerações. Cidade do meu andar, como dizia Mario Quintana, deste meu tão longo andar e talvez, do meu repouso. Que bela homenagem, senhores vereadores, em especial o seu proponente, Vereador João Carlos Nedel. Colocar seu nome honrado nesta rua: Luis Felipe Monmany e abaixo dele, singelamente, uma síntese biográfica em três palavras: veterinário, poeta e escritor. A Vera, sua esposa e seu grande amor, as queridas filhas Lúcia e Nana, os netos, todos seus familiares e amigos ficaremos para sempre devedores. Nascido em Bagé, o menino Luís Felipe já veio ao mundo com cheiro de campo. Foi um legítimo herdeiro deste pampa dos índios charruas, dos gaúchos que desconhecem os limites da fronteira. Em seus versos dizia:

Brasileiro, me chamam aqui; ‘uruguayo, me dicenallí’, e eu não vejo a diferença” (...). “Fronteira eu cruzo domando, pois não há linha marcando, onde é o Uruguai, onde é o Brasil”.

Era bilíngue em português e espanhol com uma naturalidade espantosa. Um verdadeiro cidadão do MERCOSUL, sonho cultural e econômico que um dia se tornará realidade. Em sua profissão sabia tudo. Desde a administração de uma estância até as modernas técnicas de marketing dos laboratórios brasileiros e internacionais. Dominava o inglês e dialogava de igual para igual com os experts de outros países. Eleito, para a Diretoria do Conselho Regional de Medicina Veterinária, participou do grupo que construiu o Centro Administrativo do Médico-Veterinário e do Zootecnista, aqui em Porto Alegre, hoje um orgulho de ambas as profissões. Mas não perdeu de vista a poesia, sua grande paixão, organizando uma Antologia dos Veterinários Poetas e um festival intitulado “Veterinários em Canto e Poesia”. Encontro artístico inédito, onde músicos, letristas, cantores e declamadores, todos os médicos-veterinários, apresentaram espetáculos públicos no Teatro Dante Barone, da Assembleia Legislativa, dos quais foram gravados dois discos. Ainda o vejo, naquelas noites, circulando na ribalta e declamando no palco, feliz em mostrar para Porto Alegre os seus colegas, a sua poesia, a suas pilchas gaúchas, a sua alegria de viver. É verdade; meus amigos. Acima de tudo, o nosso Luis Felipe Monmany foi um homem feliz. Assim o recordamos, bom pai de família, bom amigo, bom colega, brilhante em tudo o que fazia hospitaleiro, festeiro, cozinheiro, gremista fanático, contador de causos que nos faziam rir.

Lembro-me de uma noite em sua casa, aqui na zona sul de Porto Alegre, em que ele trouxe de Bagé seu primo Áttila Sá Siqueira para pintar um mural repentista, enquanto era declamado um poema.

Que grandes momentos passamos juntos, sempre com a presença do Talai Selistre e sua família, e de outros artistas do nosso folclore, como Doly Costa, Paulinho Pires, Glênio Fagundes, Júlio Machado, Jaime Caetano Braum, Mozart Pereira Soares. Como os duendes das fábulas, desejamos que a felicidade que o nosso Monmany soube espalhar por sua estrada, seja o apanágio desta rua e de seus moradores. Uma rua do sul de Porto Alegre para um homem que cultivou os mais puros valores sulistas e soube valorizá-los em prosa e verso. Um homem que amava a natureza e escreveu para as árvores um lindo poema de amor. Ao fim do qual, depois de dizer que elas nos acompanham desde o berço até a última morada, afirma com convicção:

Mas eu não vou ficar ali. Meu espírito sairá pelas veias da madeira fria e peão e Deus rumarão até o infinito”.

Que Deus abençoe o nosso Monmany por tudo de bom que fez em sua vida e permita que esta rua seja como ele foi: um oásis de alegria, de amor e de paz. [1]


[1] Alcy Cheuiche. http://www.crmvrs.gov.br/Info159.htm .

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