HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO E DA PEDAGOGIA EM BAGÉ

Cláudio Antunes Boucinha


CAPÍTULO I


EDUCAÇÃO DA JUVENTUDE


Fonte: BAGÉ: INDÚSTRIA, COMÉRCIO, AGROPECUÁRIA, LITERATURA, BIOGRAFIA, SOCIABILIDADE. Revista em Homenagem à XXIII Exposição-Feira de Bagé, Oficializada pela Prefeitura Municipal e Associação Rural. (Organizada por Balduíno Damásio da Silva). Bagé: Typographia Minerva, 1º de janeiro de 1937, pp. 16-17.


Introdução

O texto pretende mostrar um pouco da história da educação em Bagé, especialmente na década de 30, demonstrando a preocupação do Estado Novo nascente com a educação de todos, como uma manifestação de patriotismo. A educação ainda é vista, na época, como instrução e como cultura, ao mesmo tempo.


Contexto Histórico


Luiz Mércio TEIXEIRA, prefeito municipal em 1937, foi baluarte “(...) da Revolução de 30. Em 1932, membro do Diretório Libertador (Partido Libertador, fundado em 1928), ficou ao lado deste, na luta que se feriu no Estado”.

“Candidato à primeira sucessão prefeitual de Bagé na Nova República, a sua vitória nas urnas foi sem precedentes, não se podendo mesmo considerá-lo um eleito no pleito de 17 de novembro de 1935, porque, de fato este foi, antes, uma aclamação popular, levando à suprema governança do município o homem que se fez ídolo de um povo reconhecido!”.

“Empossado em 27 de dezembro, por entre vitories (de vitoriar, verbo transitivo: 01. Proclamar vitorioso; 02. Aplaudir muito, aclamar; de vitória + - ar.) empolgantes da gente de sua cidade, revelou-se, de logo, o administrador seguro, ponderado e previdente”.

“Nesse terreno, a sua obra se tem acentuado principalmente no interesse dispensado à instrução pública, que (...) difundido largamente no município, amparando todas as iniciativas surgidas em prol do nobre fim, (...)”.(BAGÉ, 1937, pp. 12-13).


Educação da Juventude


A Educação como Cultura. Bagé pode orgulhar-se do grande adiantamento que atingiu sua instrução.

Sob qualquer aspecto que focalizemos o movimento cultural de nossa urbe, não podermos deixar de reconhecer que se trata de um problema, se não resolvido pelo menos equacionado e cuja solução se processa dentro de diretrizes seguras e bem orientadas.

Basta compulsarmos o gráfico do movimento escolar para constatarmos sua contínua ascendência de ano para ano.

Suas digressões são facilmente explicáveis e pouco influi na consecução do objetivo final.

Este desenvolvimento se observa, não só quanto à instrução primária, mas ainda quanto à secundária e à artística.

Em todos esses ramos em que se subdivide o movimento cultural de nossa cidade, constatamos os mais lisonjeiros resultados. (BAGÉ, 1937, pp. 12-13).




A Educação como Instrução, a Educação como Direito de Todos. É, porém, a instrução primária, a que tem merecido especial carinho de todos os que direta ou indiretamente labutam nas bases de nossa organização social.

O município de Bagé apresenta uma população em idade escolar de cerca de 12.000 alunos.

Isto é o suficiente para mostrar a complexidade do problema ante os recursos materiais de que dispõe.

As dificuldades a vencer surgem a cada passo.

A cada passo antolham-se (de antolhar, verbo transitivo. Derivado de antojar - de ante+olhar. Antojar, verbo transitivo: 01. Pôr à vista; representar ou figurar na imaginação; 02. Apetecer; do castelhano, antojar, “apetecer”) obstáculos quase intransponíveis.

É o problema de todas as administrações e é o problema que o atual prefeito (Dr. Luiz Mércio TEIXEIRA) está enfrentando e resolvendo com alto patriotismo e grande descortino (substantivo masculino: 01. Ato de descortinar ou avistar; 02. Argúcia, perspicácia; derivado regressivo de descortinar).

O desenvolvimento de seu plano administrativo se manifesta por concretas iniciativas em favor da instrução pública.

Sua ação, não se tem limitado a meia dúzia de parágrafos e artigos destinados a complicar cada vez mais o nosso sistema burocrático, mas se abalançado (Particípio passado de abalançar. Abalançar, verbo transitivo: 01. Pesar com balança; 02. Impelir, arrojar. Verbo reflexo: 1. Atrever-se, arriscar-se, expor-se; 03. Atirar-se, lançar-se; de a-+balança+-ar) a realizações positivas que se condensam numa série de medidas acertadas e que vieram ao encontro dos interesses do ensino público.

A instrução de nosso município é ministrada em cerca de 70 aulas entre públicas e particulares.

Essas aulas acham-se em sua maioria aptas a dar um combate eficiente ao analfabetismo não só pelo seu escolhido corpo docente, como pelo seu aparelhamento de que se acham dotadas. (BAGÉ, 1937, pp. 12-13).




O Tipo de Professor. Quanto aos elementos que integram o magistério, podemos dizer sem discrepância, que são verdadeiros abnegados, treinados na difícil arte de ensinar.

Enfrentam os espinhos de sua árdua missão espalhando no meio de nossa juventude as munificências (feminino plural de munificência. Munificência, substantivo feminino: 01. Qualidade ou ato de munificente; 02. liberalidade; 03; generosidade; 04. Magnanimidade. Do latim munificentia-, “generosidade”.) de seu saber.

São os obreiros que martelam quotidianamente nos alicerces de nossa pátria, plasmando sem desfalecimento os caracteres dos futuros cidadãos da pátria. (BAGÉ, 1937, pp. 12-13).




A Questão do Material Escolar. Entre os fatores que mais de perto afetam os interesses da instrução, influindo em sua eficiência é a questão do material escolar.

É este um problema que tem sido atacado com tenacidade pela atual administração, a qual num esforço digno de nota, já conseguiu em curto espaço de tempo, prover grande número de aulas, que lutavam com dificuldade pela falta ou deficiência dos utensílios escolares, bem como reformar os que se achavam em condições de serem aproveitados.

Esta medida, conjuntamente com a de localização de muitas aulas, concorreu para melhorar as condições escolares de nossos estabelecimentos de ensino. (BAGÉ, 1937, pp. 12-13).




Os Objetivos do Ensino. As aulas receberam um cunho mais prático e mais proveitoso.

Os edifícios, porém, em que funciona a maioria das aulas não foram construídas com esse objetivo.

Daí facilmente se depreende que grande número deles não apresentava os requisitos higiênicos e pedagógicos exigidos.

Era mister adaptá-los ou construir novos prédios que estivessem à altura do nobre fim a que se destinam.

É o que fez e continua fazendo o operoso prefeito da comuna.

Construiu uns e adaptaram outros. (BAGÉ, 1937, pp. 12-13).




Uma Questão Nacional: O Caso de Aceguá. Entre esses, devemos citar, pela importância de que se reveste, aquele que foi construído no Aceguá, 7º Distrito deste município.

Não havia nenhuma aula nessa localidade.

A nossa juventude escolar, à míngua de outros meios, era obrigada a recorrer às escolas uruguaias onde, conjuntamente com as primeiras letras, recebiam os utensílios necessários ao estudo.

Hoje (1937) felizmente já mudou essa situação.

Ergueu-se naquele mesmo local (Aceguá) uma escola perfeitamente equipada, para garantir aos seus alunos uma sólida instrução.

A bandeira nacional já flutua nos dias de festas naquelas paragens e os acordes do hino nacional; cantados pela nossa juventude escolar ecoa nas quebradas daquelas serranias. (BAGÉ, 1937, pp. 12-13).



O Ensino Urbano e Rural. Foi ainda instalada em novo prédio a de Seival. Passou por remodelações o grupo escolar de São Martim.

Montaram-se as aulas de Santa Tecla e das Tunas.

Foram criadas duas aulas na Estação do Rio Negro e cinco no Primeiro Distrito.

Quase todas as aulas urbanas e suburbanas passaram por completa reforma.

É assim que, dentro dos planos traçados pela presente administração, teremos em breve lapsos de tempo, remodelado todas as nossas aulas, de forma a corresponder às altas finalidades da instrução. (BAGÉ, 1937, pp. 12-13).



A Educação Gratuita. Convém ainda notar que o município fornece a grande número de alunos todo o material necessário para a aprendizagem das primeiras letras.

Esta medida contribui vigorosamente para o aumento da matrícula escolar, trazendo para as aulas muitos alunos que de outro modo estariam impossibilitados de adquirir os objetos didáticos necessários ao seu estudo. (BAGÉ, 1937, pp. 12-13).



A Difusão do Ensino Público e o Estado “Patriótico”: Os Comitês Pró-Instrução. É mister que se diga que a instrução pública tem encontrado um forte apoio e um fator de desenvolvimento nos Comitês Pró-Instrução, que praticamente se estão organizando em todos os Distritos rurais.

O primeiro que se fundou foi o de Seival.

Depois vieram o do Rio Negro e os do 3º e 4º Distritos.

Outros estão em organização.

Esses comitês visam alcançar pela propaganda e por uma patriótica e bem orientada ação a difusão do ensino público.

Levando-a todos os recantos do nosso município. (BAGÉ, 1937, pp. 12-13).



A Escola Moderna Como Produto de Filantropia. A par desse trabalho, digno dos melhores encômios (plural de encômio, presente do indicativo de encomiar - 1ª pessoa do singular-, verbo transitivo, tecer o encômio de, louvar, elogiar. De encômio+-ar), temos a salientar o auxílio eficiente das iniciativas particulares, vindo ao encontro das aspirações do município e com ele colaborando na grande obra de difusão da instrução pública.

Entre esses, releva citar o gesto altamente generoso e patriótico do Sr. Rodolfo MÓGLIA, cuja munificência já dotou o município com dois excelentes prédios otimamente construídos e aparelhados com todos os utensílios necessários a uma escola moderna.

O primeiro desses edifícios se acha localizado no próspero povoado de Santa Teresa e favorece uma densa população escolar.

O outro que se acha situado à Rua Flores da Cunha, próximo à Praça da República, foi entregue ao município por intermédio do Rotary Clube.

Em retribuição o governo da comuna, designou a nova escola, com o título de Escola Rotária Dr. Pena. Gestos como estes nobilitam e elevam a quantos o pratiquem.

O Sr. Rodolfo MÓGLIA juntou ao grande número de benemerências prestadas a Bagé pelo seu espírito filantrópico, mais esta que ficará gravada no coração dos bageenses. (BAGÉ, 1937, pp. 12-13).



Regulamento da Educação Primária Municipal e a Participação dos Diretores das Escolas. Não seria possível, outrossim, coordenar o movimento escolar, sem sistematizá-lo dentro de certas normas.

Para isso, se fazia mister elaborar um regulamento que correspondesse às verdadeiras necessidades da instrução.

Com a colaboração de vários diretores de estabelecimentos escolares e depois de consultar os interesses do ensino, foi organizado e aprovado o Regulamento de Educação Primária Municipal, dentro de cujos moldes está sendo orientada a ação escolar. (BAGÉ, 1937, pp. 12-13).



A Escola Secundária e a Escola de Artes. Se nos transportarmos ainda às esferas do ensino secundário e artístico, verificaremos o mesmo ritmo de desenvolvimento.

A nossa cidade está dotada de estabelecimentos de instrução, capazes de honrar os mais cultos meios do país.

Entre os oficiais podemos citar a Escola de Comércio, o Ginásio Municipal Nossa Senhora Auxiliadora, o Ginásio Municipal Espírito Santo, a Escola Complementar, e o Conservatório Municipal de Música.

Entre os autônomos citamos o Colégio Perseverança, o Colégio Independência, o São Luiz, o Instituto de Música Santa Cecília, além de muitos outros estabelecimentos de instrução. Recebem diariamente instrução em nossas escolas cerca de 5.042 alunos. (BAGÉ, 1937, pp. 12-13).




A Defesa da Matrícula Pública. É este, em rápidos traços, o estado atual da instrução em nossa terra.

Do que aí fica registrado podemos aquilatar o que já se fez e o que resta a fazer:

A tarefa não é pequena e chega mesmo a apresentar dificuldades quase insuperáveis.

Aplainando, porém, esses obstáculos, temos a orientação inteligente de nosso edil, cujo espírito prático e empreendedor é a garantia segura de crescente progresso da matrícula pública. (BAGÉ, 1937, pp. 12-13).

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