17 DE JULHO DE 1811

"Apesar de João Antônio Cirne, o nosso proto-historiador, ter afirmado em seus “Apontamentos históricos de Bagé”, manuscrito datado de 1871, que a fundação desta cidade ocorrera a 17 de julho de 1811, quando Dom Diogo de Souza, depois de haver concentrado aqui o “Exército Pacificador” sob seu comando, rumou para Montevidéu, essa data ficou esquecida por largos anos.
Jorge Reis, ao publicar seus “Apontamentos históricos e estatísticos de Bagé”, em 1911, quando passou o centenário da Fundação de Bagé, deixou de registrar o dia desse acontecimento.
É a partir de 1951, em publicação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que aparece a data de 11 de junho de 1811, como sendo a em que Dom Diogo de Souza levantara acampamento e nomeara comandante do Distrito ao Capitão Ricardo de Mello.
Em sua memorável “História de Bagé” , Eurico Salis segue a mesma linha, que passa então a tomar consistência.
Essa divergência entre a informação prestada por João Antônio Cirne, e a introduzida pelo IBGE e seguida por Eurico Salis, obrigou a realização de uma pesquisa, na farta documentação de Dom Diogo de Souza , referente a esse período, para esclarecer o momento em que Bagé nasceu.
Walter Spalding, convidado para também estudar o assunto, em artigo divulgado pelo Correio do Povo de 20 de janeiro de 1955, mostrou que em 11 de junho Dom Diogo de Souza não se entrava em Bagé, embora em viagem para esse Acampamento, e que sobre a nomeação do Capitão Ricardo de Mello, nada encontrara a respeito.
O pesquisador gabrielense Gastão Abott, pelo mesmo jornal, em 1° de maio do mesmo ano, confirmava a data anunciada por João Antônio Cirne, como a da Fundação de Bagé e informava que o primeiro comandante do Distrito e Campo de Bagé havia sido o Tenente de Dragões Pedro Fagundes de Oliveira, dizendo inexistirem documentos sobre a presença de Ricardo Antônio de Mello e Albuquerque nesse posto, uma vez que à época era paisano.
Quando aqui se reuniu, nas comemorações do Bicentenário do nascimento de Dom Diogo de Souza, um Congresso de História, apresentei tese no sentido de ser fixado o dia 17 de julho de 1811 como a data da Fundação de Bagé.
Face à documentação oferecida ao exame dos participantes do conclave, entre os quais estavam os historiadores Walter Spalding , Dante de Laytano, Félix Contreiras Rodrigues, Eurico Salis, Francisco Marques dos Santos, para citar apenas estes, foi aprovada por unanimidade essa data, pois os documentos apresentados eram irretratáveis.
Em verdade, na correspondência expedida por Dom Diogo de Souza, como Governador do Rio Grande do Sul e Comandante em Chefe do “Exército Pacificador”, há um ofício dirigido ao Tenente de Dragões Pedro Fagundes de Oliveira, datado de 17 de julho de 1811, no qual anuncia a sua retirada deste “Acampamento dos Serros de Bagé”, e nomeia para Comandante do Campo e Distrito de Bagé, removendo-o da Guarda de São Sebastião onde se achava.
O inverno rigoroso, com passos cheios, caminhos pesados, cavalos em mau estado, obrigaram Dom Diogo de Souza deixar no Acampamento de Bagé, não só os animais que deveriam se recuperar em pastagens que viessem após as chuvas e as geadas, mas principalmente , oficiais e soldados que permaneciam no hospital, munições de boca e guerra, que ficavam nos armazéns reais, além das famílias que haviam sido autorizadas a se deslocar para Bagé, com a finalidade de acompanhar os oficiais e soldados que estiveram aqui estacionados por quase um semestre.
Assumindo o novo comando, Pedro Fagundes de Oliveira dizia a Dom Diogo de Souza, sentir-se “responsável por este Acampamento e seu Distrito, como autorizado para a defesa desta Fronteira, enquanto V.Ex.a. não permitir esta autoridade a outra patente mais superior”.
Nasceu Bagé, pois da disposição de Dom Diogo de Souza em deixar aqui por força das condições climáticas , parte de seu exército, e da dedicação de Pedro Fagundes de Oliveira em promover o bem estar das pessoas que ficaram sob sua responsabilidade.
O dia 17 de julho de 1811, como bem assinalava há 112 anos João Antônio Cirne, é o dia da Fundação de Bagé , e sempre o haveremos de comemorar com chuva e frio, que esses rigores da natureza foram os padrinhos desse nascimento".(TABORDA, Tarcísio Antônio Costa. Texto publicado no jornal CORREIO DO SUL de 17/julho/1983, p. 02).

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